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Um blog, de auto-ajuda, criado para partilhar a minha experiencia de vida e o meu dia-a-dia. Contado na primeira pessoa, enquanto emigrante, na Republica da Irlanda, desde 2005.
Lembro-me dos meus tempos de menina.
Lembro-me do leite Agros. Era vendido em sacos, de cor branca por fora e azulmarinha ou preta, por dentro. E do Milo, o chocolate em po, para adicionar ao leite e das suas latas verdes.
Lembro-me que so comia um iogurte, uma vez de longe a longe. Hoje em dia, suponho que seria quando a minha mae recebia. Lembro-me que era ao Sabado. Talvez fosse quando ela ia as compras.
Lembro-me do fiambre vir embrulhado em papel, pela senhora da mercearia. E do queijo tambem.
Lembro-me que fiambre, nao tinha sempre.
So a manteiga.
Lembro-me que, por isso, talvez, adorasse a geleia e a marmelada. Eram as coisas novas e doces, para o meu paozinho.
Lembro-me o quanto adorava o leite com canela e acucar, para variar, so do leite com acucar. O chocolate em po, era um miminho, que nao entrava sempre la em casa. So as vezes.
Lembro-me de comer Nestum. As vezes, ao lanche.
Lembro-me de comer Cerelac. As vezes, ao lanche.
O pequeno almoco era o famoso, pao com manteiga e cevada com leite e acucar. Desde sempre.
Habituei-me de tal forma, que continua a ser assim. Apenas hoje, troco a cevada pelo cafe.
Lembro-me dos almocos de Domingo serem, muitas vezes, ovos verdes, com pure e salada, que continua a ser a minha refeicao favorita.
Lembro-me de a minha mae fazer bolos. Lembro-me do bolo de marmore e do de laranja, que eu tanto adorava. Mas so as vezes.
Lembro-me da casa ser muito fria. Por isso, no Natal, o aquecedor, primeiro a gaz e, depois, o electrico, ficava ligado todo o dia. Porque era dia de festa. Por isso, acabavamos por adormecer estatelados no chao, da sala de jantar, com a preguica de sair para o frio, que entretanto se fazia sentir, no resto da casa.
Lembro-me de escrever sobre isso numa das minhas redacoes na escola. Intitulava-se '' O meu Natal''. ihihihihi
Lembro-me de so ter roupa nova, no Natal e na Pascoa. No resto do ano, tinha as roupinhas da minha prima, que e um pouco mais velha que eu. Estavam novas as roupas, e eram muito bonitas, mas nada se comparava, aquela sensacao de ir comprar roupas novas.
Lembro-me de as Sextas-feiras, comer, muitas vezes, batatas fritas com coracao frito, na minha ama. Sim, que naquela altura, nao havia infantarios.
Lembro-me da unica televisao que tinhamos a preto e branco, estar na sala. Lembro-me que so tinhamos a RTP.
Lembro-me que a televisao era castanha e grande.
Lembro-me das botijas de agua quente, que a minha mae, com todo o carinho, colocava aos pes da minha cama, nos dias frios de Inverno, para me aquecer os pes.
Lembro-me que o telefone veio depois. E eu sentia-me toda vaidosa, so por ter um telefone em casa.
Lembro-me de nao termos carro. So uma motorizada, que os meus pais usavam para irem trabalhar. Fizesse sol, ou chuvesse torrencialmente. Lembro-me de andarmos os 4 de motorizada, para irmos ate a vila mais proxima, para um almoco, num restaurante bem baratinho, mas que gostavamos muito, em dias de anos.
Lembro-me de ir para a escola a pe.
Lembro-me e ainda hoje me emociono, ao pensar nisso, de ver o meu irmao, com fita-cola, nos oculos.
Lembro-me que TUDO isto comecou a melhorar, so quando o meu Pai de Coracao, passou, tambem, a trabalhar, numa oficina de um colega. Isto depois de um dia ja longo e arduo de trabalho. Ganhava uns escudos a mais, o que comecou a possibilitar uma melhoria na qualidade e quantidade da nossa vida. Na vida dos 4.
Lembro-me de poder andar a brincar com as minhas amigas e vizinhas. Sem medos de sermos raptadas por grupos mafiosos, que nos poderiam levar para inumeros fins, como a pedofilia, a doaccao de orgaos, a prostituicao infantil, etc, etc, etc. Era avisada para nao falar com estranhos, mas a mensagem era passada de uma forma simples e entendida claramente.
Lembro-me de termos um patio para brincar, porque nao estavamos, na era dos apartamentos.
Lembro-me de termos sempre caes, nao se falava, nem havia dinheiro para alarmes, contra roubos. ihihihih
Lembro-me que aos 10 anos, fui para a escola preparatoria e continuei a ir para a escola a pe. Demorava cerca de 50 minutos, pra la chegar, e outros pra vir embora.
Lembro-me de nao existirem micro-ondas, nem maquinas de lavar roupa ou loica.
Lembro-me que a minha mae, aos Sabados de manha, ia para o tanque, durante horas, enquanto eu ia estendendo a roupa ou limpando a casa. Limpar a casa, com excepcao da cozinha e os chaos dos quartos de banho, era uma tarefa minha e do meu irmao. Nao havia desenhos animados, ao sabado, de manha. Havia limpezas! Muitas vezes, tambem, ela ia fazer horas extras, para ganhar mais algum. E entao de manha limpava, de tarde ajudava na roupa.
A cada geracao que passa, os relatos de infancia, vao sendo, mais e mais precarios.
Contudo, a verdade e que Portugal, hoje esta a viver um Dejavu, ou serei so eu, que tenho esta sensacao?
Meu Deus...
Estamos a cair no abismo, novamente!
Onde os quem tem algum poder economico, vao rentabilizando, com a crise.
E onde os outros...
Bem os outros, estao a passar pelo mesmo que eu ja passei.
A diferenca, e que nao estavam preparados!
Eu cresci, com a crise, e ninguem ma camuflou.
Mas compreendo que e pior cair na crise, do que crescer com ela.
Tal como uma doenca.
Pior ter Sida que nascer e crescer com ela.
Quando nascemos e crescemos, com algo assim, nao conhecemos outra realidade; mas quando, nos deparamos com uma nova situacao, que so ouviamos vagamente de relatos, as coisas ganham um novo significado nas nossas vidas.
Pensem nisso!
Beijinhos de Mim.
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