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Um blog, de auto-ajuda, criado para partilhar a minha experiencia de vida e o meu dia-a-dia. Contado na primeira pessoa, enquanto emigrante, na Republica da Irlanda, desde 2005.
O Joao foi diagnosticado, em Janeiro de 2011, na Irlanda, tendo, entre outras, TDA (Transtorno de Defice de Atencao),TOD (Transtorno de Oposicao e Desafio) Dispraxia ou TDC (Transtorno do Desenvolvimento da Coordenacao) como e mais conhecido, em Portugal.
Sempre sentimos na pele, que ele era, por vezes, uma crianca dificil.
A noticia chegou as nossas vidas como uma um dia de tempestade intensa.
Ninguem gosta. Ninguem quer.
Nao digo como uma bomba, porque acredito que ha outras doencas, que tem outros nomes, para se poder utilizar essa expressao.
Apesar de o Hospital, nao ter nunca ,apontado o dedo, a verdade e que deixava em aberto a nossa possivel ''inconsistencia''.
Na altura, lembro-me de ter chorado muito e me ter sentido ferida, nos meus sentimentos.
Sentimentos de uma mae, que sempre tentou fazer tudo, pelo bem do seus filhos.
Sempre fiz tudo o que me indicaram e sei que fui muito mais alem.
Tenho a nocao, de que sempre fiz tudo, o que achava mais acertado fazer, para os meus filhos.
Com a ajuda de todos os profissinais envolvidos, absorvi como uma esponja nova, todas as indicacoes e conselhos, para aprender a lidar com cada um dos Transtornos do Joao. O Defice de Atencao, a Oposicao e o Desafio, a Dispraxia, a sua baixa- auto estima , a sua Depressao, os Tiques nervosos...enfim. Um a um. Fui ficando quase uma perita, em todas estas patologias.
Li imenso tambem do que eles me iam dando, e em investigacoes que fazia na net.
Hoje posso dizer, que foi o motivo principal, pelo qual eu me despedi. Nao foi o unico, mas seguramente, o principal. Ja estava de baixa, desde Janeiro, pedi uma licenca, sem vencimento, a empresa, onde trabalhava, mas eles nao aceitaram e acabei por me despedir.
Era a saude do meu filho que estava em causa e a sua recuperacao.
Senti, numa primeira fase, que todas as terapias que se avizinhavam e algumas que ja tinham, ate comecado, seriam fundamentais, na ajuda a reconstruir, o que eu tinha destruido.
O meu filho.
O Joao desde muito cedo, deu mostras de ser um menino especial.
Aos 5 meses comecou a fazer febres e a nao querer comer (o Joao adora comer!). Depois de muitos exames, a pediatra descobriu, que era as saudades do pai, que tinha voltado ao trabalho, apos um mes de ferias. Ficou atenta.
Aos 10 meses, ainda sem falar, comecou, atraves, de sons, a pedir para fazer coco, no pote. Inacreditavelmente, verdade.
Foi o ponto de viragem.
Antes dos dois anos, o Joao ja sabia praticamente as marcas dos carros todas.
Aguardamos para saber falar, que no caso dele, foi ate aos dois anos de idade, para consultarmos, uma das melhores pedo-psiquiatras do Porto.
O Joao nunca falou de mimo, como costumamos dizer, no dia a dia.
Nunca usou palavras como papa ou popo. Era a sopa, a comida, o carro.
Lembro-me de que nao conseguia usar uma tesoura, de que os desenhos dele eram puros sarrabiscos, de que nao gostava de brincar com os legos, que adorava carros e que sabia mais de Dinaussauros, do que qualquer adulto que eu ja tenha conhecido.
Lembro-me de ser sempre uma mae muito, mas mesmo muito exigente com ele. Nao queria que dissessem que ele era um menino mimado. Porque era assim que eu o sentia. O meu menino. Que eu tentava mimar, sem dar a entender que mimava.
Sei que o que aconteceu com a ''Leonor'' fez com que reagisse assim, com o Joao.
Era e sou quase uma mae fria, com o meu Joao.
Nao se tentem por no meu lugar e dizer que se fosse convosco, reagiriam de forma diferente.
Se algum de vos, passou pelo que eu passei, eu aceito, caso contrario, nao julguem o meu comportamento, ja que vos transcende, completamente.
Culpo-me a cada dia por ser assim. E tento nao o ser, a cada dia tambem.
Amo o meu Joao, como so eu, sei.
O medo que Deus me levasse o Joao tambem, fez com que passasse a agir com uma certa frieza, para com ele. Tentava nao me ligar muito, para que se Deus, mo tirasse tambem, eu nao sofresse tanto.
O meu medo de perder tambem, o Joao, fez com que me tornasse assim. O meu imenso amor pelo meu filho, fez com que me impedisse de me dar por completo e por inteira.
Este sentimento corroeu-me durante anos.
E a segunda vez que falo dele a alguem, com a vergonha.
Vergonha de sentir o que sinto. E medo. Medo de perder o meu Joao.
Medo de ter como garantido o meu filho para depois ele me ser levado, como tinha acontecido antes. Quando Deus, ja me tinha ensinado, numa grande e durissima, licao de vida, que nao devia ter nada, como garantido.
Tudo isto porque me quis armar em forte, e nao quis ajuda, para fazer o luto que devia ter feito.
Vivi assim durante 10 anos. So percebi isso, ao fazer a minha terapia, aqui na Ilha e apos eu ter tido o Tomas. Ja depois de ter perdido, outro bebe.
Por isso, quando os medicos falavam em ''inconsistencia'' e ficava tao sentida...nao era mais do que o tocar na minha ferida.
Claro que me aleijavam, na minha ferida. Eu ainda estava a cura-la.
Aprendi com a ajuda de todos eles (Pedopsiquiatra, Assistentes Social, Terapeuta Ocupacional, Professora de Apoio, Medico de Familia, outras maes,...) que o importante e o que fazemos com a informacao que temos, e nao com o que esta para tras.
Ter consciencia de mim, enquanto Mae, fez de mim, uma melhor mae.
E quando estes profissionais me dizem que se pudessem atribuir valores, numa escala de 0 a 100, me atribuiriam um 120, as minhas lagrimas, inevitavelmente, caiam. Diziam-me ainda que podiamos baixar os padroes de exigencia, para os....90, diziam eles, com um sorriso. Enquanto as minhas lagrimas continuavam a cair. Era humanamente possivel, alguem fazer mais, do que eu estava a fazer pelo meu filho, diziam eles.
Estas declaracoes, vieram obviamente acalmar o sentimento de culpa. Culpa das ''inconsistencias''. De nao se ser uma mae perfeita. Descobri, ai nesse instante, que nao existem pais perfeitos, como se tenta passar a mensagem, a toda a hora.
Desde os 3 anos que a pedopsiquiatra do Joao, me pedira para ficar em casa ou mudar de emprego. Ja na altura.
Lembro-me de lhe ter respondido desta forma:
-''Senhora doutora, ou eu continuo a vir aqui com o Joao e ter dinheiro para os 75 euros, que a senhora cobra, ou fico em casa...''
Nunca foi capaz de me responder...entao fique em casa, porque se o fizer, nao vai precisar de me dar os 75 euros. Que pena. Devia ter tido a coragem de o ter feito. Tinha poupado o meu filho a muito, estou convencida.
De qualquer das formas, acabei por ter chocado tudo e quase todos, quando resolvi, corrigir o meu erro, e preferi nao ter dinheiro para quase nada, mas tentar recuperar o tempo perdido. E o meu filho.
A parte da Dispraxia, que e uma condicao fisica, o resto aceito os meus 90% de culpa, o restante, atribuo a genetica, essa malvada.
Mas este e so um desabafo de uma mae.
Agora amigos...sim tu e tu e tu e mais os restantes 55 que tem lido este diario, usem este desabafo, como entenderem.
E que atire a primeira pedra......
Beijinhos de Mim
Ao meu filho Joao...porque esta e a verdade envergonhada e cheiinha de medo, que pensasses que nao te amo, quando na verdade amo-te demais, porque so se teme perder quem amamos de verdade.
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