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Diario de uma emigrante

Um blog, de auto-ajuda, criado para partilhar a minha experiencia de vida e o meu dia-a-dia. Contado na primeira pessoa, enquanto emigrante, na Republica da Irlanda, desde 2005.



Sexta-feira, 02.08.13

Uma promessa cumprida.

A UNICEF revela que 20% das mulheres e 5% - 10% dos homens afirmam ter sido vítimas de abuso sexual em crianças. É quase 15% da população mundial adulta.
''Faça ouvir a sua voz sobre a violência contra as crianças.''- Foi assim que resolvi começar a falar sobre uma Mulher que conheço e que foi vitima, em criança, de abusos sexuais continuados, por anos e anos.

Prometi a mim mesma que se um dia tivesse oportunidade faria com que a historia dela se perpetuasse num diário, num caderno, num livro, em algo que não deixasse morrer, a sua historia e a sua dor.

Não vou desenvolver muito a sua historia...hoje. Vou apenas começar.

Tinha 9 anos e 21 quilos. O meu T. tem 3 anos e pesa 18 quilos. E acreditem que de gorducho não tem nada.

Acredito que se fosse da família, de sangue, as coisas teriam terminado de outra forma. Mas não.

Eu digo graças a Deus, mas ela não. Ela ainda não consegue. Acho, alias, que nunca conseguira. Nunca.

Foi uma senhora que ela conhecia como sendo a sua avo, que denunciou o caso as autoridades competentes.

Talvez, pelo facto, de não ser família de sangue, esta senhora conseguiu perceber e ultrapassar barreiras gigantescas, como a da humilhação familiar, por exemplo.

Estamos a falar em expor, um caso de abusos sexuais de menores, há 50 anos atrás.

Não deveria ter sido nada fácil, para esta avo, mas nem por isso, se silenciou. Expos a sua família por um bem maior. O amor a estas criancas. O amor desta avo, por suas netas, fê-la nunca olhar para trás. Lutou pelas suas netas, ate as ultimas consequencias. E a bem da verdade, elas não eram sequer do seu sangue.

Esta avo, fez com que, há 50 anos atrás, um homem fosse condenado, por abusar e molestar sexualmente, as suas enteadas.

As meninas foram retiradas a mae! Esta assistia...imagine-se!

Foram, assim, colocadas em reformatórios, como se tivessem sido elas as condenadas.

Tinham direito a visitas, uma vez, por mês. Aquele homem tinha direito a visitas, na prisão, a pelo menos todas as semanas.

Não posso assegurar se foi condenado a 14 anos...mas julgo ter sido esta a sua pena. Pena que foi reduzida para 4 anos, devido as circunstancias da sua vida...

Estas meninas saíram dos colegios internos, dos reformatórios, ou casas de correcção, como lhes queiramos chamar, aos 21 anos!!!

Só nestes dados, podemos perceber que a justiça portuguesa, de há 50 anos atrás, não era assim tão diferente, daquela que temos, nos dias de hoje.

Quem afinal e que fez mal a quem?

Quem e que afinal ficou inibido de ter uma vida, dita, normal?

Aquele homem, apenas, 4 anos depois, voltou para junto da sua esposa. Da mãe destas meninas. Daquela que assistira a tudo. Mas que a sua própria vida, ironicamente ou nao, fez questão de acertar contas com ela.

As meninas, aos 21 anos, foram para familiares próximos, que as acolheram, como se não tivessem outra escolha. Porque a verdade e que não tiveram.

Falta-me esclarecer que as colocaram em diferentes colégios, reformatórios, como lhe queiram chamar. Uma em cada canto.

Do dia para a noite, estas meninas viram-se sozinhas e abandonadas, por aqueles que conheceram durante toda a sua vida.

Bons ou maus eram a sua família. E a única certeza que uma criança sabem e essa. Foram abandonadas.

Tiveram sensivelmente 10 anos, afastadas de tudo e todos. De tudo quanto conheciam. De todos os que as conheciam.

O pai biológico morrera no dia em que a mais nova fizera 10 meses.

Não tinham ninguém!

O reformatório pelo que conta uma delas, foi pior, do que ter estado numa verdadeira prisão.

-''Se tivesse numa prisão, ao menos, podia ter visitas, uma vez por semana.''- conta.

Os abusos sexuais mudaram-lhes a vida. Os abusos sexuais roubaram-lhes a vida.

Uma delas confessa que nunca fala nisso com ninguém. Mas que não há um único dia, que não se lembre do seu passado. Mas que durante o dia tenta apagar da sua memoria, o que viveu.

 

A outra nunca cresceu verdadeiramente. Nunca foi capaz de se tornar numa adulta. Os traumas foram demasiados. Independentemente da idade que tem hoje, continua a sentir-se sempre aquela menina abandonada de outrora. Sempre sentindo-se uma vitima do seu passado. Porque nunca conseguiu, também ela, uma ajuda medica, pronta e eficaz.

Hoje, uma luta contra um cancro da mama; a outra, luta contra uma depressão crónica, ou, como eu lhe chamo ''o cancro da mente''!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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por Diario de uma emigrante às 22:02


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