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Diario de uma emigrante

Um blog, de auto-ajuda, criado para partilhar a minha experiencia de vida e o meu dia-a-dia. Contado na primeira pessoa, enquanto emigrante, na Republica da Irlanda, desde 2005.


Segunda-feira, 25.08.14

A Minha Despedida deste Blog.

Chegou o dia de dizer adeus a todas as pessoas que me acompanharam através deste blog.

Estamos, sensivelmente, a um mes do Outono.

Costumava detestar o Outono.

Mas pela primeira vez, vejo-o de forma diferente.

As folhas que caem das arvores, costumavam-me fazer ficar melancólica e triste, porque ficava sempre com pena das folhas.

Elas caem das arvores e o vento leva-as para longe e acabam por desaparecer.

Detestava essa ideia e o Outono por isso.

Ver alguma beleza nas arvores ''nuas'' e despidas era algo que jamais consegui perceber, ate agora.

Eu mudei e por isso, olho para esse fenómeno da natureza com outros olhos.

Hoje, eu posso dizer que me sinto como uma arvore.

Apenas o meu Outono veio mais cedo.

Hoje já não penso em todas as folhas que caem no chão e o vento as faz desaparecer para sempre.

Aprendi a perceber que tal como a arvore, precisa disso para crescer e ficar maior e mais forte, eu também preciso.

Veja-se o caso das amendoeiras em flor, quanto maior for a arvore, mais bonita se torna, ja depois na primavera.

Admiramos mais facilmente as grandes arvores.

Quero isso.

Inevitavelmente, as minhas folhas estão a cair, estas paginas, este Diário de Uma Emigrante.

Sei que vou continuar a escrever.

Sei perfeitamente bem o que quero e onde quero chegar.

Afinal uma arvore, será sempre uma arvore.

E eu serei sempre eu.

Mas preciso e sinto-me a crescer, tal como a arvore.

Hoje em dia, já não sinto que quero ir embora da Ilha.

Esta e o pais que me acolheu e a minha casa e a minha vida são aqui.

Mais do que isso, eu adoro a minha vida.

Se me perguntassem se quero ir embora para Portugal, a resposta seria NÃO!

NÃO MESMO!

Isto a uns dias de fazer 9 anos que emigrei, quer dizer algo concreto.

Eu mudei.

Não foi de opinião que mudei, nem foram as minhas circunstancias, fui EU!

Só me resta por isso agradecer ao meu marido, a todos os meus amigos e seguidores anónimos deste blog, que chega assim, hoje, ao seu ultimo dia.

 

Ate um dia destes.

Beijinhos de Mim

 

 

 

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por Diario de uma emigrante às 14:12

Sexta-feira, 22.08.14

O Regresso De Uma Familia Emigrante!!!

Foi dia de regressar a Ilha da Esmeralda.

Acordamos e levantamo-nos as 5.15h da manha.

Acordar os meninos a essa hora e que doeu mais no coração, mas com o frenesim instalado, essa dorzita, la acabou por passar.

As malas foram postas no carro do avo, umas horas antes de nos deitarmos.

Ele levou-nos a estacão do comboio, como combinado.

Mas antes, dissemos um adeus, ate daqui a 4 meses, se Deus permitir, a vovó.

Com direito a beijos e abraços.

E sem choros ou lágrimas.

Foi tudo a correr, como e melhor e menos doloroso, para todos.

Como se costuma dizer, parecíamos ciganos (e eles que me perdoem a expressão)!!!

Um casal, um adolescente e duas crianças.

Duas malas de 20 kg., três de 10 kg, duas mochilas de escola, uma mochila de criança e a minha carteira.

NOVE MALAS NO TOTAL!!!

Tínhamos tudo controlado e estudado, mas sabíamos que a logística da coisa em si e que seria complicado.

O JP portou-se lindamente.

Percebeu e fez tudo o que lhe fomos pedindo, preparando-o com antecedência devida.

Chegamos a ensaiar a subida e descida dele com as malas do aviao e tudo mais.

Para esclarecer melhor os distraídos:

1- Colocamos as 9 malas (de véspera) dentro do carro e enfiamo-nos todos lá dentro.

2-Eu coloquei uma mochila as costas, mais a minha carteira e o saco dos meninos. Dei as minhas duas mãos, aos meus dois pequenotes. Um deles ja puxava uma das malas de 10 kg (pobrezinho). O JP (meu rico filho!) colocou a outra mochila as costas e começou a puxar em cada mão, as outras duas malas de 10 kg. (Bendita a alminha que inventou as malas com rodinhas!!!) O Pai puxava em cada mão as outras duas malas de 20 kg cada...enquanto ia-me ajudando a controlar os meninos.

3-Esperar elevadores e entrar e sair deles, foi o de menos.

4-Entrar e sair do comboio no Porto, com as 9 malas e os meninos, para a Gare do Oriente, em Lisboa foi tudo uma questão de logística!!!

5-Entrar e sair do Taxi da Gare do Oriente, para o Aeroporto de Lisboa, com as 9 malas e os meninos foi tudo uma questao de sorte!!!

6-Fazer o check-in e passar na ''revista'' já somente com 7 malas foi tudo uma questão de organização!!! 

7-Subir e descer do avião com 7 malas e os meninos foi tudo uma questão de treino!!!

8-Entrar e sair do autocarro ''transfer'' que nos levou ao nosso carro, com as novamente, 9 malas e os meninos, foi uma mistura de sorte e perseverança!!!

9-Meter as nove malas, duas criancas, um adolescente e um casal dentro de um carro, foi tudo uma questao de pratica!!!

10- Mas não, nos não somos pessoas de etnia cigana, que tem por fama, andarem com a casa as costas... 

Somos APENAS MAIS UMA FAMÍLIA PORTUGUESA EMIGRADA, a viver na Republica da Irlanda (que por acaso e uma ilha) há quase 9 anos!!!

Somos os sortudos que quando nos lançaram uma corda para o fundo do poço, em que nos encontrávamos, na altura, nos aproveitamos a oportunidade, que nos ofereceram.

Agarramo-nos a corda e subimo-la a pulso.

E com todo o mérito nosso e com o nosso trabalho, chegamos aqui.

Seja la onde este aqui seja ou signifique...

Não nos esquecemos da ajuda que recebemos.

Mas hoje em dia, digo aos que de variadíssimas formas ajudo, que mandar a corda e sinal primeiramente de egoísmo.

Ajudamos porque nos sentimos bem em praticar o bem, e assim sendo, fazemo-lo em primeiro lugar por nos mesmos e só depois pelos outros.

Mas e tambem sinal de que queremos ver outros bem, note-se.

De partilha, portanto.

E partilhar o que temos e sempre de salutar.

Beijinhos de Mim

 

 

 

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por Diario de uma emigrante às 14:08

Sábado, 26.07.14

O ALCOOL....

Sinto-me perigosamente vulnerável!!!

Tenho-me visto numa luta interna.

Entre tentar aproveitar cada dia e manter a calma e a serenidade, tanto quanto possível, e o facto de saber que vens já para a semana.

Se eu disser assim, parece que nao tenho que esperar ainda mais 8 dias.

Meu Deus!!!!

Mais 8 dias!!!

Sei que vão passar a voar. Tenho tanta coisa para fazer.

Mas gostava de estalar os dedos e ja estares aqui.

Sinto-me apesar de tudo, cansada.

Sinto-me mais segura de mim.

Mais confiante e ate mais bonita.

Já percebeste isso.

Sabes-me melhor que eu própria e sabes-me como ninguém.

Quando te disse que fui as compras, percebeste-me logo.

Sabes que, raramente, vou as compras para mim.

Sabes que vou as compras para mim, quando não estou assim, tão segura de mim, quanto quero acreditar ou parecer.

Mas olha, fui sozinha e adorei cada segundo desse sossego.

Comprei ROUPA PARA MIM!

Sim....para mim!

E sem remorsos!

Esta semana estou a cuidar de mim, também.

Fui arranjar os pes, as unhas e o cabelo.

Comprei uma lingerie nova.

Ate porque o nosso aniversario, esta ai a chegar.

De qualquer das formas a minha confiança esta a melhorar a olhos vistos.

Não consigo viver mais como ate agora o tenho feito.

Ou seja, a colocar tudo e todos a minha frente.

Não posso!!!

Acabou!!!

Não me importa dos que ainda não perceberam que cada um tem mesmo, que se colocar, em primeiro lugar, sem por isso fazer de si egoísta.

Neste momento estou-me borrifando para qualquer tipo de julgamento.

Neste momento nem sequer tenho a mínima paciência, para esse tipo de pessoas.

Juro que não!!!

Sabes, não tinha reparado que tenho uma ferida e sem eu perceber caiu-me álcool em cima.

Bolassssssssssssssss.

Meu Deus!!! Como dói!

Estou a gritar com as dores, ao mesmo tempo que o álcool esta a fazer o seu trabalho, a curar.

Afinal a ferida estava exposta, e dói como um raio.

Ouves-me?

Os berros que possas ouvir, são só uma amostra, da dor que o álcool esta a provocar.

Já aprendi a conter-me...acho.

Afinal eu sou a que ajudo a limpar as feridas dos outros.

Mas tu não estas aqui e desta vez, vou ter de ser eu sozinha a limpar a ferida.

Não estou muito habituada a isso, mas o facto de saber que vou ter de ser eu sozinha, está-me a causar uma sensação de bem estar e confiança extra.

Porque eu Sinto que vou conseguir.

E acima de tudo, SOZINHA.

Estou-me já meio a rir, meio ainda a chorar, como as crianças que tem medo do álcool, nas feridas dos joelhos.

As crianças também tem mais medo da dor, do que outra coisa qualquer.

Medo que doía muito... e sofrem por antecipação.

Pois...o Medo!!!

O Medo... este sentimento e um malvado!!!

Quero retirar esta palavra da minha vida o mais que puder.

Quero enfrentar os meus medos. Todos eles.

Olha ontem fui tomar café ao parque, ao Jorge, como tenho feito todos os dias desta semana.

Não pedi nenhum álcool, mas acabou por me vir fazer companhia, uma Super Bock, que me soube tão bem.

Por momentos ate me esqueci da ferida.

Mas houve outros momentos, que mesmo sem querer comecei a mexer nela e vi que ainda me dói.

Mas isto vai passar, como tudo passa na vida.

Ah, já me esquecia, acabou-me o Whiskey, imagina...

kakakakakakakkakakakaka

Beijinhos de Mim

 

 

 

 

 

 

 

 

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por Diario de uma emigrante às 14:05

Domingo, 20.07.14

LadoAlegre ou Positivo!!!

Consegui tirar as algemas.

Aquelas que eu propria havia colocado em mim, ha quase 9 anos atras, quando emigrei para a Ilha.

Fiquei com as marcas e com as dores de quem esteve tanto tempo acorrentada, e que por isso, fica naturalmente, com as marcas no corpo.

Ainda nao tive uma sensacao de liberdade, no verdadeiro sentido da palavra, pois as algemas, estranhamente, ja faziam parte de mim.

Sentir-me verdadeiramente livre e uma questao de tempo.

Muito pouco!

 

E assim que consigo descrever o que sinto, em relacao ao que aconteceu.

Durante estes quase 9 anos, passei o tempo a querer voltar a Portugal.

Como ja aqui tinha dito, apenas este ano, aceitei a minha realidade e a minha vida.

Na verdade, a vida que eu escolhi, note-se!

Com a ajuda de todos os meus amigos e familiares, aos quais desde ja agradeco imenso, estas ferias, definitivamente, ajudaram-me a sentir que sou uma emigrante.

Esta dado o passo que faltava.

O circulo fechou-se.

Entrei no papel que e realmente o meu, o de ser uma emigrante.

Nao sou a amiga.

Sou a amiga da Irlanda, a emigrante, claro esta.

Ja nao sou a Carla.

Sou a Carla da Irlanda.

Aquela, sabes?....

Ja nao pertenco aqui.

E nunca vou pertencer a Ilha.

Nunca.

Sei que nunca e uma palavra muito definitiva, mas so eu sei o que sinto.

Por isso afirmo- Nunca.

Posso vir a dizer que pertencerei mais a Ilha do que a Portugal, mas o adjectivo usado no grau comparativo de superioridade, fara toda a diferenca.

Nao me identifico com estas maneiras de pensar, de agir, de viver.

Nao mesmo!

Eu mudei nestes quase 9 anos, mas os meus amigos nao.

(Ou muito pouco.)

Os portugueses nao.

Sinto-me como aqueles peregrinos que vao a Fatima, a pe.

Apesar de eu nunca ter ido, nem muito menos fazer intencoes de tal, tenho familiares que ja o fizeram, e que pelas suas reaccoes, acredito que eu nao esteja errada, com a minha comparacao.

Existe um caminho ja pre-destinado a esses peregrinos; existem sitios onde sabem que podem tomar as suas refeicoes, pernoitar e descansar; existem pessoas que ajudam nas maleitas que se criam pelo caminho; existem os que ja fazem o mesmo percurso, ha anos, e ajudam os inexperientes, etc.

Cada um tem as suas proprias motivacoes para o fazer.

Nesse ''Caminho a Fatima'', so quem o faz, e capaz de entender de sentimentos e das conversas, que se criam e geram, durante e apos, essa jornada.

Assim me sinto.

Sinto que estou a chegar ao meu destino.

Sei que ha os que vem la atras; e os que ja la chegaram, ha mais tempo.

Ha os que ja la chegaram, mas ainda nao sairam, pois precisam desse tempo de reflexao; e os que ja partiram, para outros ''caminhos''.

Outros ha ainda, que optam, por ajudar os que precisam de ajuda, para chegar ao destino.

Todos precisam, a meu ver, de apenas uma coisa, Motivacao.

Uns chamam-lhe Fe, eu ca prefiro chamar-lhe Motivacao.

Vejo e Sinto as pessoas com desculpas tao esfarrapadas, como a falta de tempo.

O colocar os filhos, em primeiro lugar, e outra das desculpas mais esfarrapadas, minhas favoritas.

Nao ha tempo para os outros.

Nao ha tempo para mim, tambem.

Acho um piadao, aos meus amigos que nunca entenderam que a minha agenda, para os cafes, e exatamente, porque cada um deles, tem uma vidinha tao aterefada, que so pode em ''X'' dia e a hora ''Y''.

Resolvi nao ter mais agendas para os cafes.

Acabou-se a agenda.

Vou viver o agora.

O depois, a Deus pertence.

Se der deu, se nao der, paciencia.

Tenho planos, para as ferias, com o meu marido e os meus filhos como qualquer outra pessoa.

Mas apenas isso, planos.

As pessoas fogem a 7 pes dos compromissos, seja de que tipo for.

Mas se o compromisso se tratar de dedicar o seu tempo aos outros, ai fogem nao a 7, mas a 70 pes!

Alias, ca para mim, nem a 70 pes fogem, com jeitinho, pedem aos filhos a trotinete, emprestada e pisgam-se de....trontinete!

Tal como a internet, quanto mais rapida melhor!

Hoje em dia, nao ha tempo para nada, nem para ninguem.

Nem para os filhos.

Os pseudo colocados em primeiro lugar.

Sai-se de casa a correr e coloca-se os miudos a correr tambem, logo pela manha.

Entra-se em casa a correr para fazer o jantar, arrumar a cozinha e dar banho aos filhos.

Se nao se tiver o marido, para partilhar tarefas, entao e o caos, completo!

Nao ha tempo!!!

Nem dinheiro!!!

As pessoas queixam-se com falta de tempo e dinheiro.

Ou entao mentem!!!

Mentem, sim.

Se nao mentem, entao algo esta muito mal, na vida dos portugueses e nao vejo ninguem a mudar ou querer mudar isso.

Hoje estava a falar com a Sofia, da Associacao LadoAlegre.

Contava ela, com alguma magoa, que precisa de voluntarios para ajudar na recolha de alimentos do supermercado local, e nao consegue que as pessoas dediquem, nesses fins de semana, 4 horas do seu tempo, para ajudar os outros.

Pior...que se comprometem e depois nao aparecem, ou querem ir embora, mais cedo do que o acordado.

Dei gracas a Deus, nesse momento, em que ela me contava semelhante.

Uma vez mais, senti que nao pertencia aqui, a Portugal.

A este mundinho, que so pensa e olha para o seu umbigo, e que ainda tem a distinta lata de perguntar: '' E a mim??? Quem e que me ajuda a mim???''

Eh pa.....passo-me com isto!!!

Gente mesquinha e egoista!

Sim egoista, bolas!

Mas por acaso acredito la eu, que a esmagadora maioria das pessoas que eu conheco, nao podia dar um pacote de bolachas ou uma lata de atum ou salsichas, por mes???

Imagino a quantidade de pessoas, que das duas uma, ou pede a Deus para lhe dar isto e aquilo, mas que nao e capaz de dar, aos outros, sem receber nada em troca; ou pensa, que se comprar um shampo a mais, nas suas compras, vai precisar dele; ou entao, a minha preferida, se das e porque podes, e mais nada.

Nao, definitivamente, nao me identifico, mais com esta mentalidade.

Posso nao andar com uma campainha, a dizer o que ajudo e como ajudo ou quem ajudo, mas sei quem ajuda tambem, e desde entao, que eu saiba, tambem nunca lhes faltou para comer, pois nao amigas???

Ja agora, se quiserem ajudar, perguntem-me como....

E se nao quiserem ajudar, nao ajudem, mas facam-me um favor, nao se queixem!!!

Estou farta deste tipo de mentalidades!!!

Bolas...

 

Beijinhos de Mim

 

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por Diario de uma emigrante às 22:15

Sexta-feira, 18.07.14

Quem Muda, Deus Ajuda...

Este foi o ano da mudanca.

Desde que regressamos de ferias, o ano passado, ate agora eu sinto que mudei.

Nao foi a minha vida, que mudou, fui eu.

Nao mudei de casa, nem de carro, nem de emprego, nem de marido, nem de filhos, nem de pais, nem de amigos.

Nao mudei de nada e nada mudou na minha vida.

Apenas eu.

Aos meus olhos, houve uma aceitacao da minha vida, na Ilha.

Hoje, olho para tras, e agradeco aos meus amigos que me emprestaram um ombro, sempre que precisei e preciso chorar.

Eu escolhi ir para a Ilha.

Eu escolhi ter mais filhos na Ilha.

Eu escolhi desempregar-me e ficar a educar os meus filhos e a cuidar deles em casa.

Escolhi viver com menos dinheiro e ganhar mais, em tudo o resto.

Escolhi as escolas dos meus filhos.

Escolhi a minha casa, na Ilha.

Escolhi estar longe de tudo e de todos, ate na Ilha.

Hoje, olho para tras, e agradeco a Deus (por me ter permitido) e a mim, por ter tido essas escolhas.

Hoje, sinto, que a cada obstaculo que tenho e tive, fico mais e cada vez mais forte.

Sinto que saio de cada um deles, mais fortalecida.

Como que se precisasse de todos eles para crescer interiormente e emocionalmente, mesmo sem me dar conta.

Hoje sinto, como que se o meu ''eu'' crianca, precisasse de todos estes desafios tremendos, para tomar a consciencia, de que sou tao mais forte, do que durante tanto tempo, acreditei.

E a minha confianca a subir, eu sei.

E agradeco a cada um dos meus amigos, aos meus pais, ao meu marido e aos meus filhos, por isso.

Cada um a sua maneira, foi-me dando a mao, para eu sair da lama, na altura, em que eu me estava a afundar nela.

Este foi o ano, em que senti que podia regressar a Portugal.

Confesso-o aqui, pela primeira vez.

Podia ter regressado.

Numa primeira fase, achei que era medo.

Medo do incerto, medo de me arrepender, medo de voltar a estaca zero.

Tantos medos, pensava eu.

Parei por dias, a pensar nisso.

A minha voz interior dizia-me, que nao, que nao era medo.

Mas eu acreditava que sim, a minha mente, queria-me fazer acreditar que sim.

Aprendi ao longo deste ano, que se nos perguntarmos algo, a resposta imediata, e-nos dada pela nossa voz interior, e nao pela nossa mente.

Aprendi que a minha mente esta como que ''envenenada''(pela sociedade, desde que nascemos).

A minha voz interior esteve submissa, por tanto tempo ao poder da minha mente, que embora esteja a ganhar terreno, a passos largos, a verdade, e que ainda tem muito a percorrer.

Desta forma, percebi que afinal, tenho a vida que sempre sonhei e lutei para ter.

Sempre.

Por isso mesmo, estagnei.

Nao tinha valorizado devidamente o que fui conquistando.

Nao tinha feito mais planos e sonhado mais, porque de alguma forma, achei que tinha chegado ao topo dos meus sonhos, e que por isso, nao deveria atrever-me a sonhar mais.

Eu ja me sentia uma sortuda...

Ja tinha tudo o que sempre sonhei na vida.

Engano meu! Tanta asneira!! Valha-me Deus!!!

Em primeiro lugar, nao soube estar devidamente grata, pelo que consegui, nem a mim, nem a Deus que me permitiu, nascer na minha pele, permitindo-me assim, experienciar e viver todos os dias da minha vida.

Sejam eles de maior ou menor aprendizagem.

De maoir ou menor aflicao.

De choro ou de alegria.

Em segundo lugar, porque perdi a confianca, em mim e em Deus.

Creio que ainda nao tinha percebido, na sua plenitude, que Deus me proporciona e me permite viver cada dia da minha vida.

Que se o mundo e se eu estamos em constante mudanca, entao, porque raio eu acreditei que tinha que estagnar, ao chegar ao topo dos meus sonhos.

Porque? Estava adormecida.

Fiquei adormecida.

Acredito que a sociedade, as pessoas ao nosso redor, ajudam a sentirmos isso mesmo.

''Perante tanta desgraca, contenta-te, mas e, com o que tens. Da mas e gracas a Deus.''

Acomodei-me e tive medo.

Medo de realmente perder o que alcancei, a custa de muito trabalho e disciplina orcamental.

Quando me despedi, fi-lo, essencialmente, por dois motivos.

O que pesou mais eram as nossas preocupacoes, com o JP, sem duvidas, nenhumas.

Porem, houve de facto, outro motivo forte.

O de eu propria, ter sido ''vitima'' de bulling, no local de trabalho.

Foi o dois em um.

Ficar em casa a viver um sonho secreto, de estar com os meus filhos e educa-los eu; e refugiar-me das pessoas.

Estava na lama e tinha medo que fosse cada vez mais pisada, do que ja havia sido.

Hoje, olho para tras e percebo os meus medos.

Eram legitimos e para mim, reais, na altura.

Aceito e compreendo todos eles.

Percebo que dificilmente podia ter feito melhor ou valorizado melhor, o que quer que fosse, incluindo a minha vida e os meus sonhos.

Percebo que os meus sonhos foram conquistados, tambem, porque eu tive a coragem de me afastar, do que me estava a fazer mal.

''Ninguem mais pisa em mim e agora vou cuidar da minha familia, ainda que com dificuldades financeiras, pelo facto de me ter despedido.''

Foi um misto de emocoes, na altura.

Fui corajosa, ainda assim, e assumi totalmente, as minhas escolhas.

Foi um alivio nao ter que continuar a estar no mesmo espaco e ver as mesmas pessoas diariamente que tao mal me faziam e  fizeram sentir.

Tudo a custa da falta de confianca em mim e nas minhas capacidades.

Tudo por invejas e ciumes.

Fizeram-me bulling, trataram-me como lixo, como merda, porque eu deixei.

Esta e a verdade, dura e crua.

Eu permiti.

Foram precisos mais de 5 anos, para hoje, eu poder escrever e afirmar, cada uma destas palavras.

Nao me culpo.

Nao. Nada disso.

Foram circunstancias da vida.

Uma serie de acontecimentos, enfim.

Hoje, olho para tras e vejo que os sujeitos eram (e acredito que ainda sao) uns coitados, uns tristes.

So pessoas de muita ma indole, se aproveitam das fraquezas dos outros, para tirarem algum partido dessa condicao.

Mas isso, vejo, hoje, com uma confianca, que na altura, nao tinha.

Hoje, tenho mais planos e mais sonhos para mim.

Hoje, sei que precisava, como cada um de nos precisa, do meu proprio tempo, para chegar aqui, onde estou.

Cada um tem o seu tempo.

Agora entendo, que nao adianta querer que aquela ou a outra amiga, saia da lama.

Cada um tem o seu caminho.

Posso apenas inspirar e dizer eu sei, eu tambem estive la.

Mas se eu consegui, tu tambem podes conseguir.

Acredita.

Beijinhos de Mim  

 

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por Diario de uma emigrante às 15:49

Quinta-feira, 17.07.14

Os Brinquedos, o Autocarro e as Cordas!

Esqueci-me de trazer brinquedos para os miudos.

Bolas, bolas, bolas!!!

Trouxe os tablets deles, va la.

Hoje em dia, estou num processo de aprendizagem, ao aceitar o facto de nao ter de ser perfeita.

Esqueci-me e prontos!!!

Olha, paciencia.

Alguma coisa se ha-de arranjar ou entao chegando ao destino, compro alguns brinquedos e fica o caso arrumado.

Pensei eu, assim que saimos do Porto.

Ao longo do primeiro dia, fui-me espantando com os meus filhos, mais uma vez.

Com o JP ainda adoentado nao podemos sair muito de casa.

Mas os miudos tem-me demonstrado, mais uma vez, que nao precisamos, mesmo de muito para sermos felizes.

E eles muito menos.

Eles apenas precisam do essencial da vida e do suficiente para serem felizes.

Eles nao tem os vicios dos adultos, nem muito menos, qualquer tipo de prazer nas ostentacoes materiais.

Ontem brincaram com as molas da roupa e construiram pistolas, como se de legos se tratassem.

''Matavam-nos'' e depois nos tinhamos que ''acordar''...

Achavam piada aos adultos fecharem os olhos e abrirem, as suas vozes de comando.

Percebi que achavam piada ao jogo, por esse motivo e apenas com essa intencao.

Entao nao me importei de entrar na brincadeira, depois de percebida a intencao.

Fomos ao pequeno parque, que tem ao fundo da rua, ao final do dia.

Andaram de baloico e escorrega.

Depois pegaram nas pequenas pedras do chao, do parque, e comecaram a atira-las para um campo abandonado.

E estiveram, desta forma, entretidos, mais uma boa meia hora.

Esta brincadeira, fez-me lembrar, e certamente, tambem a eles, de casa, da Ilha.

Pois assisto a mesma brincadeira dos tres, inumeras vezes, quando vamos a praia e a mare esta cheia.

Adoram atirar as pequenas pedras para a agua.

E eu adoro ve-los a brincar assim.

Sem muito de material, mas com o que considero de mais essencial da vida, O AMOR.

Com os nossos coracoes, a transbordar de AMOR.

Confesso que de alguns meses a esta parte, ha alguns sentimentos, que percebo que sao fundamentais para eu ser feliz.

Que o Amor e fundamental, mas que ha outros igualmente importantes.

A Confianca, ou se preferirem, a auto-estima, e outro desses sentimentos.

Tenho sentido isso, cada vez mais.

Ja nao me sinto culpada, por ser uma pessoa mais confiante, ou querer ter, ainda mais confianca, em mim propria.

Pelo contrario.

Ter confianca em mim, ouvir a minha voz interior, tem-se revelado como uma escolha essencial para a minha felicidade.

A unica escolha logica, alias.

Ouvir-me a mim mesma, faz-me querer continuar, e cada vez mais, a seguir o caminho que escolho para mim propria.

Nao posso apontar o dedo a ninguem.

Nao ha culpas a atribuir a nao ser a mim mesma.

E dizendo isto, ao mesmo tempo que luto a cada dia para ser um ser humano melhor, percebo tambem, que so o posso ser, se acima de tudo, me aceitar totalmente e me permitir errar.

E nesta logica acabo por nao apontar o dedo a ninguem.

Vou aceitando e procurando as coisas positivas na vida, que Deus me deu.

E um processo que estou a adorar, confesso.

Sinto-me a renascer.

Lembro-me agora, ao escrever, que pressentia algo desta dimensao, ha umas semanas atras.

E disse-o aqui.

Acho e que nao tinha a plena consciencia, que ja me encontrava a caminho.

Cada vez mais, percebo claramente, que nao e um caminho facil, ou entao, todos o encontravamos e o faziamos.

Mas sei que e definitivamente um caminho possivel e que existe mesmo.

O caminho de que falo e o de perceber, o porque que nos devemos colocar em primeiro lugar, no topo das nossas prioridades.

Perceber que tudo o resto vem naturalmente por acrescimo, com luta e determinacao, e extremamente gratificante.

Hoje em dia, ao olhar para mim mesma, ja nao vejo aquela Carla que sentia pena das pessoas, que nao tinham auto-estima, e que por isso, se sentia culpada, quando a sentia, em pleno; ou pelo contrario, sentia uma necessidade de a mostrar ao mundo.

Talvez fosse esse meu lado de 8 ou 80.

A verdade e que hoje, olho a confianca em mim, de forma diferente.

Lembro-me da Bela, pela altura do Natal, me ter alertado para esse facto.

Lembro-me da Joaninha, uma menina que me vai seguindo, por estas bandas, me ter alertado tambem.

De certa forma e bem diferente da Sandra, claro.

E de muitas, mas mesmo muitas outras queridas amigas e amigos, que hoje, sei que me vao acompanhando, a distancia.

Lembravam-me que as minhas palavras que partilho neste Diario e as minhas atitudes, perante a vida, as inspiravam e poderiam inspirar muito mais pessoas.

Sei tambem, muito bem, das que, pobres coitadas me parecem querer sugar o sangue.

A essas vou-lhes sorrindo e dando um pouco da minha atencao, tambem.

Acredito que e o que buscam, apenas atencao.

Nao o fazem por mal, mas apenas por nao saberem fazer melhor.

Secretamente deixei de ter pena delas.

Secretamente espero que de alguma forma as inspire a quererem, tambem, como eu, apenas mudar para melhor.

Hoje apercebo-me, longe de tudo e todos, que ninguem tem mais paciencia para as eternas vitimas das suas proprias escolhas.

E pa...o autocarro da vida e gigantesco.

Apanhem-no.

E so quererem.

Corram um pouco, va la.

Se tem perninhas, entao corram.

E se nao tem, apanhem a corda que, diariamente, Deus vos lanca, com as duas maos.

Apertem firme e subam, va. Subam.

Mas se nao o fizerem, por favor, parem la de achar, que quem corre para o autocarro, todos os dias e/ou apanha a corda, que Deus nos envia, todos os dias, sao apenas afortunados.

Uns ate podem parecer que sao, mas serao mesmo?

Beijinhos de Mim

 

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por Diario de uma emigrante às 15:50

Quarta-feira, 16.07.14

Em Jeito de Balanco.

Acredito que nem sempre os dias mais agitados sao os mais importantes, na minha vida, ou na vida de cada um de nos.

As vezes, sao dias como o de hoje, que fazem a minha vida ir mudando, para melhor.

Com excepcao, dos dois dias que estiveram com os avos paternos, desde o dia 2 de Julho, que os miudos estao doentes.

Ora e um , ora e outro, ora e o mais novo, ora o do meio, ora agora, o mais velho.

Considero-me uma mulher inteligente.

Cada vez mais, tento e recuso-me a querer ver os obstaculos da vida, de forma negativa e tao tipicamente portuguesinha.

Afinal, pro bem e pro mal, ja me assumi um emigrante na Irlanda.

Contra a adversidade que foi ter tido os miudos doentes, ao longo das ferias conjuntas com o maridao, houve ainda tempo, antes do seu regresso, a Ilha, de tirar algumas licoes positivas de tudo o que aconteceu, nestas quase 2 semanas de ferias, em familia.

Mais uma vez, ouvir a minha voz interior, mostrou-se ser fundamental, para estas ferias.

Isso faz com que a minha auto-estima, nao se deixe ir abaixo, apenas ficando mais fragilizada pelo cansaco, de ter tido os 3 meninos doentes e nao ter podido fazer uma serie de coisas ''agendadas''.

Nada que nao possa vir a fazer brevemente.

Sem duvida, que algumas formas de me expressar vao mudar, com esta aprendizagem, que Deus me proporcionou.

Expressoes, como ''na Sexta-feira tenho um jantar romantico com o maridao'', vao dar lugar a algo mais contextualizado, a quem tem 3 filhos.

Algo mais parecido como '' na Sexta-feira ja tenho algo planeado''comecou-me a fazer mais sentido.

Ao mesmo tempo, que nao digo nada, precavenho-me, contra a possibilidade de haver imprevistos, mantendo, tambem, a minha privacidade.

Para ter esta clarividencia de ideias, afastei-me de tudo e de todos.

Sou mae de 3 criancas e o maridao voltou a Ilha.

Os meus filhos dependem, em primeiro lugar de mim.

Eu tenho e tive que recarregar baterias e energias.

Sou um ser humano tambem.

O meu bem estar fisico e emocional e algo que devo a mim, como mae responsavel.

Nao quero que os meus filhos carreguem na ideia, o terem tido uma mae, emocionalmente fraca e ou instavel. Nada disso.

Nem muito menos culpa-los pelo meu cansaco, uma vez que eu sou a unica responsavel, pelas minhas opcoes de vida.

Posso admitir um cansaco, como qualquer ser humano, mas culpa-los por isso, nao seria justo.

Alem do que continuo a acreditar que, com algumas excepcoes, Deus nao nos da uma ''mochila'' com uma carga com a qual nao aguentemos.

O segredo e saber parar e pensar e dar a volta.

Saber aprender humildemente e se possivel, servirmos de inspiracao aos que nos rodeiam, ajudando-os, tanto quanto possivel.

Ajudar os outros pode ser feito das maneiras mais diversificadas que se imagina.

As vezes, aprender a dizer ''Nao'', quando essa e a nossa vontade, pode ser uma das formas de ajudarmos o outro.

Se ele fica melindrado, entao isso sera um problema da outra pessoa, nao nosso.

Acredito que nos esquecemos disto, muitas vezes.

Parei para pensar na questao, quando li algo, parecido com a minha teoria da Dieta Das Pessoas e Da Salada de Fruta de Amigos.

Dizia algo como: uma coisa sao as pessoas com quem temos relacoes; outra, sao as pessoas com quem temos que lidar.

Nos deveremos escolher, quase, sabiamente, as pessoas com quem temos relacoes de afectividade, etc.

Enquanto que no nosso dia a dia temos, obviamente, de lidar com muitas outras pessoas, que nao sentimos, qualquer tipo de afinidades.

Ter relacoes com pessoas e ter entao de lidar com pessoas, e definitivamente e indiscutivelmente, diferente.

Hoje em dia e cada vez mais, tenho o privilegio de ter na minha vida, quem desejo e quem quero.

Como dizia uma amiga querida, da minha idade, apos ter descoberto que o resultado do seu exame era maligno: ''Nao faco mais fretes a ninguem.''

''Eu tambem ja nao, querida!''- Confesso.

Ha dias em que pequenas coisas nos fazem mudar.

Pequenos gestos em nos, ou ate pontos de vista que tinhamos, mudam.

Outros dias preparam-nos e deixam-nos mais fortes, mas todos eles, nos ensinam algo de bom.

So temos e de procurar as coisas boas e pararmos de pensar apenas nas mas.

Beijinhos De Mim.

 

 

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por Diario de uma emigrante às 17:48

Domingo, 06.07.14

O Rafael e o Meu Panico!

Quarta-feira o Tomas tomou o leite quase todo.

Nem insisti numa bolachinha ou numa fatia de pao.

Chegou a casa da avo, disse que tinha fome e foi-lhe ao frigorifico.

Comeu-lhe um iogurte.

Antes do almoco disse-me:''Mama, nao tenho fome, nao quero comer.''

Chegou a sala de jantar e vomitou um pouco do que julgo ser o iogurte.

Deitei-o e dei-lhe um pouco de agua.

Como de manha ele fez questao de acordar o Rafael, acabei por deita-lo tambem.

Adormeceram num abrir e fechar de olhos.

Eram 13.00 horas.

Tinha combinado com uma colega, um cafe, para as 2.00 da tarde.

Cheguei a comentar com a minha mae, que a indisposicao do Tomas, tinha-me trazido a duvida de sair ou nao, mas como quem e mae, percebe que episodios destes, acontecem e fica por isso mesmo, acabei por ir.

As 5.30 da tarde a minha amiga insistiu que fossemos lanchar.

Ai liguei a minha mae a ver como estavam os meninos.

Nao quis ligar antes, com receio que o barulho do telemovel da minha mae, acabasse por os acordar.

Ela disse-me que eles ja tinham acordado e voltado a dormir.

Era estranho, mas como eles estao num ambiente diferente do deles, achei que eles tinham acordado ao fim de uma horita de estarem a dormir e estivessem a dormir novamente. Ela la me disse que tinha dado um pouco de cha ao Tomas e que ele vomitou esse cha.

Mas que ele estava a dormir e o Rafael tambem.

Prometi a minha mae que dai a uma hora estava em casa, sem falta.

Afinal passo o ano inteiro sem tomar um cafe ou um lanche com uma amiga.

Tinha acabado de dar uma trinca num pao com manteiga e a mae da minha amiga de infancia (que mora no andar de baixo da casa onde a minha mae mora) liga-lhe.

Ela atende o telefone sem falar.

Algo que me disse que era para mim.

Perguntei-lhe isso mesmo e ela confirmou.

''Carla vamos embora, era a minha mae a dizer que deu um ataque ao Tomas e eles vao chamar o 112.''

Levantei-me, coloquei o pao na carteira e comecei a correr pelo shopping fora.

Tinha ja os pes com bolhas dos sapatos de tacao alto.

Tirei-os e continuei a correr para o carro.

Estavamos a lanchar a 5 minutos de carro de casa.

Nestas situacoes, qualquer semaforo vermelho, parece demorar uma eternidade a mudar para o verde.

Eram umas 6.20 da tarde.

Chegamos e vi o Rafael no colo da minha mae e ela completamente e descontroladamente em panico.

Fiquei confusa e pensei por breves segundos que o Tomas ja tinha ido para o Hospital e que a minha mae estava com o Rafael a dormir nos bracos.

Foram 2 ou 3 segundos ate perceber que afinal quem tido o ataque foi o Rafael. 

A cara dele no colo da minha mae....

Ele estava com uma cara diferente, estranha e chamei-o.

Ele nao reagia, e eu ia insistindo, ao mesmo tempo que ia pegando nele, para o meu colo.

''E a mama!!! Rafa, Rafinha, Rafael....e a mama!!!''

Percebi que ele queria abrir os olhos e nao estava a conseguir.

Nesse momento entrei silenciosamente em panico e nao conseguia ouvir ou perceber nada do que as pessoas iam dizendo.

Estava imensa gente ca fora no patio da casa da minha mae.

Vizinhos que consideramos familia, que cresci com eles e eles me viram crescer.

Pedi a mochila dele e que a minha amiga, ouvisse o que se passou, pela boca da minha mae... eu nao conseguia!

Eu tinha entrado em panico silencioso e ninguem percebeu.

Eu deixei de ouvir as pessoas e so pensava se iria ter tempo de chegar ao Hospital, com o meu filho ainda vivo.

Nao conseguia, por mais que me esforcasse, ouvir a minha mae, a tentar explicar-me o que se passou.

Ouvia uns a dizer que esperasse o 112 chegar e que assim, o menino teria um socorro imediato, pelos medicos do 112...e que dessa forma, ele entraria no Hospital, mais rapidamente.

Esperei uns 2 minutos ou menos e vi o meu filho ficar amarelo e a nao estar NELE.

Pedi a minha amiga para me levar ao Hospital.

(Liliana Monteiro nunca me vou esquecer de como fizeste o teu carro voar, na esperanca de podermos salvar o Rafael. Pois foi exatamente com esta atitude que conduziste. Eu sei!!!)

O meu pai e os meus vizinhos que tenho no coracao como se fossem meus tios, ficaram com o Tomas e com o Joao.

Eu sabia que o Tomas tambem tinha tido uma indisposicao. Mas nem consegui perguntar como ele estava. Vi-o e o meu cerebro automaticamente me disse: ''ok! ele esta ok! pode nao estar bem, mas esta ok!''

Chegamos ao Hospital nuns 5 a 7 minutos.

No caminho ia tentando acordar o Rafael.

Ia repetindo as mesmas palavras ''Rafa, Rafinha, Rafael...e a mama! Olha a mama!!''

Ia vendo se ele respirava.

Os meus olhos iam-se enchendo de lagrimas e falando com Deus.

''Meu Deus, talvez hoje seja a minha vez, de perder o meu filho, e vou chorar muito e o meu peito esta a ser muito pequeno para a dor que estou a sentir e ele ainda nao se foi, mas se tiver que ser Deus, Obrigada por permitires que ele se va... nos meus bracos.''

Ate chegarmos ao Hospital, nao conseguia pensar em muito mais.

Demorei alguns minutos, para conseguir explicar a minha mae como colocar uma fralda branca por fora do carro, em sinal de urgencia, enquanto a Lili  usava a buzina e conduzia como nunca.

Ao chegarmos, ao Hospital, corri para o Seguranca: ''AJUDE-ME!!!!! POR FAVOR AJUDE-ME!!! AJUDE-ME!!!!''

Nao sabia o que dizer mais, pois na verdade era so isso que precisava, de alguem que me ajudasse a chegar a um medico.

Ele deixou o seu posto e acompanhou-me imediatamente a uma enfermeira.

Coloquei o meu filho na maca que me indicou e perguntou-me o que tinha tido ele.

''Um ataque, ou aquilo que aparenta ter sido um ataque.''- respondi-lhe.

Continuou com as perguntas, ao mesmo tempo que lhe tirava a febre (39 graus de febre) e lhe tirou em seguida a fralda, colocando um supositorio.

A minha mae ia dando os dados dele na recepcao.

A recepcionista veio perguntar se ele tinha o Cartao Internacional Europeu de Saude.

Sim, tem!!!

Tudo isto, em menos de 15 minutos, desde que sai de casa da minha mae, com ele ao colo.

Foi-me dito nesse instante que achavam que tinha sido um ataque, ou melhor, uma convulsao da febre.

''Ele mexeu intensamente a cabeca, os pes e as maos. E ficou roxo.'' -respondia eu.

Nao me lembrava de mais nada do que a minha mae me tinha dito.

Para eu conseguir memorizar isto, tinha ja feito um esforco enorme,  e obrigado a minha mae a repetir, vezes sem conta, pois ja tinha entrado em panico silencioso e estava aparentemente bloqueada.

A medida que as perguntas iam ser colocadas e como ja tinha alcancado o meu objectivo, que foi chegar ao Hospital com o meu filho ainda vivo, na esperanca de ele continuar como tal, comecei entao a chorar. 

Senti e pensei ''Eu ja fiz o que pude, os medicos ja estao a fazer, agora e o que Deus quiser.''

A auxiliar encaminhava-nos para as observacoes e eu tive um ataque de choro.

Ao chegar foi-me buscar uma cadeira e um copo com agua.

O Rafael ja estava ''entre nos'' e ja sabia que eu estava ali.

Ainda nao estava bem, mas ja estava ''ali''.

Depois disso foi uma consequencia de procedimentos medicos.

Os medicos la foram fazendo perguntas e os enfermeiros ja estavam a controlar a febre.

Vomitou.

Achei que lhes devia dizer do Tomas, tambem, mesmo correndo o risco, de eles assumirem erradamente, que a base do problema fosse o mesmo.

Eles proprios acabaram por me perguntar se eu queria leva-lo tambem, para o Hospital, mas que tudo indicava que era um gastroentrite viral, e que nesse caso, nao havia muito, que pudessem fazer. Decidi esperar e ir vendo, porque eles nao podiam ve-lo assim que chegasse, o que faria com que o Tomas tivesse que ficar a espera numa sala de espera do Hospital, pela vez dele, como e normal.

Sai do Hospital, 10 horas depois, com uma receita na mao, para na proxima convulsao do Rafael eu estar ja preparada.

Passei mais de metade do tempo descalca. So calcava os sapatos quando tinha que me deslocar.

Ao caminhar com ele no colo, para um taxi, as 4.15 da manha, custou-me imenso, pelas dores que tinha nos pes.

Tinha escolhido um rico dia, para andar com uns sapatos novos de tacao.

Pensei em tira-los novamente, mas o piso era muito incerto, porque a rua estava em obras e tinha receio de me magoar ainda mais.

Por outro lado, nao sabia onde iria levar a porra dos sapatos.

O Rafael ja estava acordado e ao colo, tinha acabado de retirar o cateter da mao, de ter tirado sangue, e nem pensar por o meu bebe no chao.

Na outra levava a mochila dele e a minha carteira.

''Meu Deus, (tornava eu a falar com Ele) OBRIGADA! MUITO OBRIGADA!! OBRIGADA DE CORACAO!!! Saio com o meu filho no colo, deste Hospital onde nao podiamos ter sido melhor atendidos. Onde TODOS foram fantasticos! Levo na carteira a receita do medicamento, para eu estar preparada para a proxima vez, que aconteca. Permitiste que ao ter de acontecer isto, eu estivesse, em Portugal, onde pude contar com o apoio da minha familia e dos meus amigos e onde este Hospital fica a uns miseros minutos de casa. Meu Deus, MUITO OBRIGADA!!! Se tudo isto se tivesse passado na Irlanda, onde nao posso contar com a minha familia, nem os meus amigos, e onde o Hospital fica a 80 km de casa, e o marido provavelmente estaria a 44 km de distancia, a trabalhar, nao faco ideia de como teria sido... Sinto-me uma Abencoada!!!''

Dei sinal ao Sr. do Taxi e entrei.

Lembro-me de que nao tive fome.

Nao pensei em comer ou jantar sequer.

Mas lembro-me de ter pensado que o carregador da bateria do meu telemovel, teria que comecar a andar na minha carteira.

Pensei que tinha dinheiro para o Taxi, para o medicamento e para carregar o telemovel com dinheiro.

Pensei que quando sai de Portugal, ha quase 9 anos, foi exatamente, porque se eu tivesse ficado, eu nao sei se teria ou nao. E que foi exatamente por isso, que emigrei, sem pensar no reverso da medalha.

O Rafael recuperou e esta quase bem, enquanto que o Tomas, quatro dias depois, ainda esta a ter febres de 4 em 4 horas.

Algo me diz, que amanha vai ser o dia da viragem...

Continuo e mais do que nunca, a sentir-me Abencoada!

Beijinhos de Mim

 

 

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por Diario de uma emigrante às 23:51

Sábado, 05.07.14

O Ataque... do Rafael!

Hesitei em escrever sobre o este dia.

Mas as palavras da minha Amiga Bela, nao me saiam da cabeca.

Lembro-me de que um dia me disse qualquer coisa sobre a minha responsabilidade social e o bem publico que eu fazia com este blog, sendo por isso razoes mais que validas para a sua continuidade.

Por achar que o meu dia de panico podera ajudar e alertar alguem, resolvi, por isso, partilha-lo convosco.

 

O Rafael teve um Ataque!

 

Hoje ja sei que convulsao febril e o nome que os medicos usam para o que aconteceu.

Ontem a Sonia (uma amiga enfermeira) explicou-me alguns detalhes que no Hospital nao chegaram a mencionar, mas que nao deixam de ser interessantes.

Uma em cada 20, ou seja, 4% das criancas ate aos 5 anos, pode ter uma convulsao febril, ainda que a tendencia depois seja de desaparecer.

Uma convulsao febril ou um ataque, pode parecer semelhante a um ataque epiletico, e de facto, 2,5% das criancas que tem convulsoes febris podem vir a ter ataques epileticos. 

Pode ser hereditario.

Surge com uma subida rapida da temperatura.

Depois da primeira convulsao, os pais destas criancas tem ''direito'' a uma receita de um medicamento para parar as convulsoes, pois e sabido que aquela crianca, devera voltar a ter um novo ataque.

As convulsoes febris podem durar segundos ou minutos.

As criancas terao um ataque identico a um ataque epiletico e os pais ja deverao saber que devem colocar a crianca de lado, sempre que possivel.

Deverao saber que devem introduzir um supositorio de paracetamol para a febre e o tal medicamento, para parar as convulsoes.

Em seguida, chamar o 112 ou dirigirem-se para o Hospital, onde a crianca devera ficar em Observacoes, de no minimo 6 horas, pelo menos na primeira vez.

Segundo a Sociedade Portuguesa de Neuropediatria: ''A criança perde os sentidos, revira os olhos, fica com o corpo hirto e logo a seguir os braços e pernas começam a tremer. Depois de alguns minutos os movimentos param, o corpo fica mole e a criança dorme durante 15-30 minutos e acorda bem. Durante a crise pode ficar com os lábios roxos, espumar pela boca ou urinar.''

Ainda que seja normal os pais entrarem em panico, na primeira convulsao, um terco das criancas voltara a ter uma, nos primeiros 6 a 12 meses, seguintes, sendo recomendado que os pais nao entrem em panico!

Quanto mais e melhor se sentirem confiantes, mais capazes serao de ajudar o seu filho.

 

Hoje eu ja sei de tudo isto!

 

Como eu senti tudo isto, e outra historia...e fica para um outro dia.

 

Beijinhos de Mim

 

 

 

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por Diario de uma emigrante às 21:58

Segunda-feira, 30.06.14

A Minha Primeira Fa!

Patricia:

Nem sei por onde comecar.

Se pelo comeco ou pelo fim.

 

Sei que pode ate soar mal, muito mal. mas ambas sabemos que e a pura verdade, se nao fosse a Mimi, jamais nos teriamos ''conhecido'', tambem.

Foi atraves de um post que fiz que me comecaste a seguir.

Na altura, tiveste a coragem de mo dizer por mensagem privada e julgo que me pediste amizade no Fb.

Foi assim, nao foi? 

Tiveste uma coragem, que nao sei se teria.

Fomos trocando algumas mensagens privadas, aqui e ali.

Foste e es a minha fa numero um, como costumo dizer, fora os meus amigos.

Depois de ti, vieram outras mulheres  e outros homens que nao conheco.

Mas tu foste a primeira!

Foste tu quem me avisou que a Mimi ja tinha dador.

Quando ainda ninguem sabia.

Por opcoes familiares (que nao me compete a mim julgar, ja que nao sou Deus!), todas as pessoas que seguiam a pagina da menina, so o ficaram a saber muito depois.

Percebeste que os meus feelings estavam certos e fizeste questao de me dizer.

ADOREI essa tua atitude, para comigo.

Acredito que tinhas percebido a minha angustia, tal como hoje ainda a percebes.

Mais uma vez aquilo em que tens dificuldade de acreditar, se cruza na tua frente.

Gracas a um anjo pequeno, com umas asas rosa e de cara laroca, nos acabamos por ficar amigas.

Percebeste isso?

Ela fez entrar na minha vida... tu, a Xana J. e a Sandra.

A Ritinha e a tia Fatima, tambem.

E sabes que mais?

Ninguem sabia, ate este momento, que ja nao somos amigas virtuais.

Fiquei com o coracao cheiiiiiiiiinhhhhhhoooo!

ADOREI, ADOREI, ADOREI estar contigo e com a tua familia.

(Bolas...isto das fotos no Fb engana tanto.)

Es 30 vezes mais bonita do que aparentas nas fotos (e olha que achava que eras bonita!) e es tao mais alta.

Es LINDA, MUITO LINDA MESMO!

Por dentro e por fora.

Foi um dia FENOMENAL.

Acho que me lembro de cada pedacinho dele.

Por isso nos esquecemos de tirar fotos.

ihihhihihihihihihi

Um dos pontos altos para mim, foi o a vontade com que fiz questao de te receber.

E quando nos damos...recebemos!!

E eu recebi de ti o que te estava a oferecer.

Simplicidade, tambem.

Adorei todos os momentos e segundos, havendo um, porem, que aos meus olhos, se destacou.

Quando metemos na mesma banheira, o teu M. e os meus dois pimpolhos.

Nao sei se reparaste na alegria dos tres... mas eu ca senti toda essa euforia, nao me tivessem eles marcado como alvo... a molhar. ihihihih 

Desde a minha roupa interior, as calcas de ganga e a camisola, molharam-me como se nao houvesse amanha. ihihih

O meu cabelo ficou a pingar, mas ver os tres, tolos de sono, mas com aquela alegria e com aqueles sorrisos, valeu a pena.

Depois limpei em 30 segundos, todo o chao e mudei-me noutros tantos.

Toda a criancada adora molhar os adultos.

O facto do Tomas ja nao ter receio de subir a ''torre''...ficou-me no coracao.

Havemos sim, de nos voltar a encontrar, antes da minha partida, para a Ilha.

Mas da proxima vez, nada, mas absolutamente, nada de choros nas despedidas!

Combinado?

 

PS. Como nao ha coincidencias, uns minutos depois de teres ido embora, a Tia Fatima ligou-me.

Acreditas nisto???

Apanhei um susto!!! Mas nao....

Eram 21.34.

Era so para ver se estava tudo bem comigo e com os meninos.

Para me dizer que o nosso anjinho esta a vestir roupa de 9 a 12 MESES...e que foi entregue a Mae.

Disse-lhe que existia a possibilidade de eu ir ve-la novamente, na Quinta-feira, pois tinha em mente fazer uma surpresa ao maridao, mas ha uma parte de mim que queria ir...outra diz que e melhor nao!

Nao quero sofrer demais...quando chegar o dia, peco a Deus que me encha de amor e me continue a fazer sentir o desapego.

Esta e a palavra que ha pouco tempo, percebi que sentia, quando partem pessoas....DESAPEGO!

Eu sei, sou uma abencoada, eu sei!

 

Beijinhos de Mim...ALEXANDRA BRITO.

 

 

 

 

 

 

 

 

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por Diario de uma emigrante às 23:30


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